quarta-feira, 15 de maio de 2013

Capa do livro

Palavras chaves: esoterismo, tarô, premonição, ocultismo, sincronicidade, Tarô, vida, viver, sociopata, perseguição, assassinato, assassino serial, polícia, jornalista, amor a vida, romance, ficção, ilustração, câncer, corrupção, Recife, Rio de Janeiro, Ipanema, direito dos pacientes, Jung, igreja, catolicismo, otimismo, sobrevida.

Capítulo 1 – Início
Capítulo 2 - “Maracutaia”
Capítulo 3 - Reincidência do câncer
Capítulo 4 - Teosofia e paranormalidade
Capítulo 5 - Iniciação
Capítulo 6 - Conseguindo o remédio
Capítulo 7 - Tarô
Capítulo 8 - Qualidade de vida
Capítulo 9 - Sociopatia
Capítulo 10 - Tratamento
Capítulo 11 - Polícia
Capítulo 12 - Prostituta
Capítulo 13 - Preparação dos Assassinatos
Capítulo 14 - Assassinatos em série
Capítulo 15 - Fim

Algumas ilustrações do livro





O início

Dr. Ribamar Nonato de Souza tinha levado uma série de trabalhos para fazer em casa no fim-de-semana, como sempre acontecia ultimamente. Estava sentado na cadeira de couro do seu escritório, olhando para os raios de sol da manhã que entravam pelas frestas das persianas. Enquanto olhava para a poeira em suspensão que flutuava no ar, meditava e tentava responder as perguntas que ainda vinham a sua mente, apesar de vários anos como auditor de uma operadora de seguros e planos de saúde.

Quanto vale uma vida? Qual é o preço de viver?
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A pasta aberta na sua frente sobre a mesa continha a solicitação de um segurado com carcinoma renal metástico, cuja melhor chance de sobrevida era passar a tomar um remédio de última geração desenvolvido por uma grande multinacional do setor farmacêutico...
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No histórico anexo, levantado no computador da empresa, constava que o segurado já havia feito uma cirurgia para retirada do rim direito há uns sete anos atrás. Agora, segundo atestado do oncologista do segurado, o câncer tinha rescindido no outro rim, apresentando metástase no pâncreas e pulmão. Era um caso sério e difícil, havendo poucas chances dele alcançar uma sobrevida superior há oito ou nove meses, mesmo com a administração do remédio. O mais provável é que não chegasse a tanto, diante do segurado estar no Estádio IV da doença.

- Mas nunca se sabe - pensou em voz alta. Nunca se sabe...
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Saindo do devaneio em que se encontrava Ribamar voltou sua atenção para a pasta na sua frente. Na realidade já sabia antecipadamente qual seria o resultado de sua análise, apenas considerando o valor do tratamento do segurado. Precisava achar apenas uma “brecha” no contrato que permitisse justificar sua decisão, se bem que na maioria das vezes não se dava ao trabalho de fornecer uma justificativa. A ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) só exigia justificativa quando o segurado entrava com uma queixa na própria ANS.
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O papel de Deus dava a Ribamar uma sensação de poder. Ele não se considerava um Deus, mas uma espécie de juiz supremo, pois como católico, seria uma blasfêmia se comparar ao Todo Poderoso. Certa vez, no início da carreira como “juiz” (termo mais adequado para o que fazia), esta sensação de poder foi tão forte, que saiu correndo atrás da Dolores (sua mulher) e a possuiu brutalmente sem preliminares.

Maracutaia, corrupção

Seu Raimundo Nonato de Souza era pai, junto com Dona Flor, de Ribamar e mais três filhos, dos quais uma era mulher, a Ana Rita, conhecida como Ritinha. Como é comum acontecer no nordeste, tinham pegado duas meninas pobres, filhas de agricultores, passadas da primeira infância, para criar.

Estas meninas, Maria José e Edilene, eram bem tratadas. Contudo, ocupavam uma condição pouco acima de empregadas domésticas na família, atuando como arrumadeiras, passadeiras e copeiras.
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Maria José não tinha nenhum predicado físico, parecendo mais uma freira em termos de comportamento e da roupa que vestia. Já, Edilene era uma rapariga alegre com um corpinho de não se jogar fora, o que aguçava o interesse dos “irmãos” a partir de certa idade.
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Seu Raimundo havia conseguido acumular alguma riqueza no interior como funcionário da agência local de um banco controlado pelo governo, tendo sido esperto o suficiente para montar um negócio paralelo ao do banco, que lhe permitiu ganhar um bom dinheiro especulando com produtos agrícolas da região, notadamente milho e feijão.
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Este negócio envolvia um esquema de uso de informação privilegiada sobre a política de preços mínimos do governo para a compra da safra agrícola, que Seu Raimundo obtinha previamente por ser chefe justamente do núcleo do banco responsável pela aplicação dessa política.
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Logo que foi morar em Recife, Seu Raimundo foi convidado para passar um dia na casa de praia do primo Tinoco, em Porto de Galinhas, de modo a receber instruções para a montagem do esquema da nova “maracutaia”. Chegando lá encontrou o primo, deputado federal, e mais alguns políticos conhecidos cercados de “garotas de programa”. Após conversarem reservadamente sobre o esquema no escritório da casa, o Tinoco falou para Seu Raimundo:

- Agora primo, vamos nos divertir que nós estamos beirando os quarenta anos e temos que aproveitar a vida. Escolhe uma garota que ainda não tem dono, coloca um calção, e vamos tomar banho de mar ou de piscina. Mais tarde, leva a “quenga” para o quarto de hóspedes e “manda ver”.

- Quanto ela cobra? – quis saber Seu Raimundo.

- Não se preocupe com isso, que desta vez é por minha conta. – disse o Tinoco. Na realidade, quem vai patrocinar é o contribuinte, já que vou usar a verba de representação.
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Divirta-se, que enquanto você “trepa”, quem vai estar sendo fodido é o povo. Ao falar isso Tinoco caiu na gargalhada.

Os amores

Um dia, no intervalo de 15 minutos de uma sessão de desenho com modelo ao vivo, estava na varanda descansando e olhando a paisagem, quando a modelo da vez, a Verônica, se aproximou e puxou conversa sob os olhares apreensivos da professora Catarina. Claro que ele já tinha feito umas brincadeiras quando se encontravam fora do atelier e dado umas olhadas, com um sorriso, durante as sessões de desenho. Não chegava a ser uma “azaração” franca, aberta, mas deu resultado.

- Escuta Roberto – falou a Verônica, que estava vestida apenas com um roupão. Que tal a gente ir para um barzinho depois da aula? Simpatizei com você desde o início, mas aqui a gente não consegue conversar nem 5 minutos, ainda mais que a Catarina fica de olho nas modelos.

- Tudo bem. Vamos nos encontrar na esquina da Rua Prudente de Morais. – disse Roberto e voltou para seu lugar atrás do cavalete, enquanto Verônica tirava o roupão, ficando nua em cima do pequeno palco onde as modelos posavam, para mais uma sessão de 45 minutos.

Foi a primeira vez no atelier que Roberto desenhou ou pintou uma modelo muito consciente de sua nudez, de sua feminilidade e da sensualidade que emanava do palco, o que dificultou bastante sua concentração e a firmeza de sua mão. Verônica de vez em quando olhava rapidamente para ele, que ficava com uma sensação de que ela estava rindo, por dentro, da situação.
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No período entre um casamento e outro, aconteceu mais uma coincidência na sua vida. Estava sentado num dia de semana na praia, chegado de uma viagem a trabalho, quando uma mulher na faixa dos trinta anos colocou sua canga próxima de onde estava. Lá pelas tantas ela puxou conversa e não parou mais de falar. Em pouco tempo ele descobriu que seu nome era Amanda e que era astróloga.

Tinha sido no passado uma Hare Krishna ..........................................
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Amanda apresentava um conhecimento profundo sobre os ensinamentos de Buda e particularmente de Krishnamurti. Era também conhecedora de ocultismo e astrologia, fazendo mapa astral para complementar sua renda. A remuneração que recebia com a elaboração dos mapas, juntamente com o salário de um emprego público, permitia criar o filho, já que seu ex-marido não pagava um “tostão” de pensão alimentícia.

Foi ela quem praticamente começou a iniciação de Roberto, através de uma mistura de ocultismo, astrologia e ensinamentos de Krishnamurti.
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Ela gostava de discorrer sobre assuntos que iam desde a criação do universo na visão do hinduísmo até Lilith. Nunca falou em Jesus ou Maria, não sendo assim cristã, nem adotando alguma forma de sincretismo religioso.

- Sabe “bicho” – falou para Roberto, uma vez que estavam na praia da Ferradura em Búzios, “curtindo” um final de tarde de primavera. A seita divulgou para o mundo o mantra Hare Krishna, que quase se transformou num hino para os simpatizantes do hinduísmo. John Lennon o incorporou inclusive na letra de uma de suas músicas.
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Roberto encontrou por acaso uma colega do tempo do Esoteric Center, a Diana, numa farmácia localizada na Praça do Lido, quando a Nara estava comprando absorvente.
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- Vamos Roberto, que você estacionou o carro num lugar proibido e eu já paguei a conta da farmácia.

Roberto que tinha sentido que a pressa da Nara era motivada por ciúmes, talvez prevendo o que iria acontecer no futuro, disse:

- Não tem pressa, hoje é domingo. Não vai aparecer nenhum policial de trânsito a essa hora da tarde.

A seguir, dirigiu-se para Diana e deu-lhe um beijo de cada lado do rosto, falando:

- “Tchau”. A gente se vê no sábado.

- “Tchau”. – falou Diana olhando para Roberto e para Nara, sacando logo o que estava acontecendo, sem precisar ser vidente.

Quando saíram a Nara perguntou:

- Quem é essa “guria”? Achei que tu estavas muito animadinho para o meu gosto.

- É uma colega. – limitou-se a responder, dando o assunto por encerrado.
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Passou um ano praticando nesse curso (de tarô) aos sábados a tarde, onde fazia também meditação de vez em quando. Depois de dois meses no curso, começou a abrir o jogo de cartas à noite para pessoas conhecidas e a namorar Diana. Ela era linda, de um tipo de beleza, incomum, difícil de encontrar entre as brasileiras, sendo morena de cabelos lisos e olhos azuis. A primeira vez que os dois transaram, na casa de Roberto, havia tanto desejo no ar que o ato pareceu levar uma eternidade, numa união intensa de todos os sentidos. O primeiro beijo foi um momento de magia e encantamento, como não acontecia há muito tempo na vida do Roberto.
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Diana era uma gata consciente dos seus predicados de mulher, que sabia usar muito bem os atributos contidos na Carta XI, a Força. Esta carta representa o emprego da força pela negação da força, o emprego de uma força sutil capaz de obter o que quer, sem se utilizar da força bruta. A carta simboliza uma mulher dominando um leão, abrindo sua boca sem nenhum esforço na altura de sua vagina, o que dá a esta carta uma conotação de sensualidade e sexualidade. Enquanto a Carta XV, o Diabo, representa o uso de uma força bruta descontrolada e o emprego do sexo pelo sexo, a Carta XI significa a utilização de uma força controlada e dirigida. Aqui o sexo é conseqüência da sensualidade ou erotismo emanado do indivíduo, no qual a mulher em geral conta com atributos superiores para dominar a arte da sedução.
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Roberto conhecera Vitória através do mesmo grupo de amigos onde conhecera a Nara. Considerando que na adolescência tinha namorado uma gaúcha de Porto Alegre, descendente de alemães, a Vitória era a terceira gaúcha na sua vida. Assim, começava a achar que tinha alguma tara pelo sotaque, pelo modo franco de falar e pela atitude desinibida das mulheres do Rio Grande do Sul. Era inconsciente, mas quando aparecia uma gaúcha num lugar ficava imediatamente atraído, antenado, ainda mais que elas são em geral muito bonitas.

Quando conheceu Vitória, Roberto estava com quarenta e quatro anos e ela tinha trinta e dois anos. Conheceram-se no aniversário de um amigo comum, que estava dando uma festa na boate Zoom de Copacabana. Roberto ficou imediatamente atraído por sua cara bonita com olhos cinza azulados e seu modo de falar. Nesse dia dançaram algumas vezes, mas Roberto sentiu que ela estava apenas com vontade de se divertir, talvez pelo fato de estar namorando um “cara” de fora do grupo há algum tempo, como ficaria sabendo mais tarde. A partir daí passaram a se encontrar mais amiúde, quando o grupo combinava ir a algum lugar.

Roberto nesse período estava saindo com a Carolina, que era uma carioca moreninha, baixinha e bonitinha, com os olhos meio puxados feito de índia, mas de pele bem clara, que vivia metida em causas e movimentos do tipo “politicamente corretos”. Assim, algumas vezes quando Roberto a chamava para sair, ela não podia porque estava comprometida com alguma causa que a impedia de ir, como fazer companhia, por exemplo, a um amigo aidético que estava passando mal. Durante a eleição presidencial que o Lula perdeu para o Fernando Henrique Cardoso, Carolina pediu um tempo para ir trabalhar durante dois a três meses num comitê eleitoral do Lula à noite e nos fins de semana. 
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No meio desse período que a Carolina pediu tempo e sumiu, Roberto e Vitória começaram a namorar em outra festa, na mesma boate onde haviam se conhecido. Quando Carolina reapareceu no grupo, descobriu que havia perdido duplamente: a eleição e o namorado.

Reincidência do câncer e uma filosofia e vida

Dr. Samuel pediu para sua secretária ligar para o paciente Sr. Roberto Moreira Thierri. Após alguns toques Roberto atendeu o celular e ficou sabendo que o seguro saúde havia negado seu pedido de tratamento com o remédio recomendado. Marcou então uma consulta para a tarde do dia seguinte, de modo a poder traçar os caminhos que deveria seguir, a partir do indeferimento da operadora do seguro saúde.
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A seguir ficou parado, pensando em suas chances, olhando para a folhagem verde exuberante da Mata Atlântica na sua frente, pontilhada aqui e ali com o prateado das folhas da embaúba, o marrom avermelhado das folhas novas das mangueiras, o amarelo ou o rosa das flores dos ipês e o laranja das flores de um flamboyan próximo. Concluiu que suas chances não eram nada boas, mesmo se conseguisse fazer o tratamento com o remédio.
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A fase de choque já passara. Na realidade durara umas horas e fora posta de lado na sua cabeça para que pudesse levar sua vida adiante, dentro de uma rotina, perturbada agora pelo que tinha que fazer em relação ao câncer. Não era dado a ficar deprimido e sempre procurara encarar de frente as dificuldades. Não se considerava mais corajoso do que as outras pessoas, mas não era de ficar parado se lamentando. Certa vez lera num livro sobre a guerra do Vietnam (Nascido para Matar) que o soldado, apesar de todos os sacrifícios e cansaço extremo de participar de patrulhas e das batalhas, precisava apenas dar mais um passo para prosseguir. É fácil, é só dar o próximo passo, um passo de cada vez, que você segue em frente até o final da sua jornada.
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Sempre encarou a morte como uma fatalidade da qual não se pode escapar. Era uma espécie de resignação oriental. Achava que se tivesse que ocorrer iria acontecer e pronto. A gente já nasce sabendo que um dia vai morrer. O melhor é aprender a conviver com isso.

Uma frase atribuída ao saudoso Bob Marley diz que: “Para que levar a vida tão a sério se ela é uma incansável batalha da qual jamais sairemos vivos?”
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Ficava sempre impressionado com a capacidade dos nossos sentidos de captar alguma coisa interessante no meio das adversidades, como uma cara bonita, uma fala amiga, um carinho, enfim alguma coisa boa, tirando nossa atenção do que é doloroso ou ruim. Claro, que isso só é possível se condicionarmos nossa mente para esse tipo de abertura. Como a cabeça da gente não para de pensar um momento sequer, é importante desviarmos nossa atenção para essas pequenas coisas que surgem e nos dão conforto ou prazer. Devemos procurar imitar a flor do girassol, que fica sempre de frente para o sol, procurando ver apenas o lado radiante da vida. Durante suas sessões de Tarô gostava de dizer para seus clientes:

- É importante aprendermos a criar compartimentos no cérebro para acomodar a coisa ruim e começar a observar o lado bom da estória. Se observarmos bem, com a mente aberta, vão surgindo algumas coisas boas na nossa frente, mesmo que pequenas.
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Quando iniciou o tratamento com o novo remédio, Vitória (sua segunda mulher) lhe dissera certa vez:

- Tu já estás com o bilhete da viagem comprado, mas quem disse que eu não posso ir antes de ti? Posso ser atropelada daqui a cinco minutos ao atravessar a rua ou ter um derrame daqui a dois dias. Se for assim temos que passar a viver intensamente todos os dias, feito se o mundo fosse acabar amanhã?

- Não, Vitória, você está certa – respondeu Roberto. Se a felicidade é curta, devemos buscar viver bem. Para se alcançar o bem estar devemos, antes de tudo, ter um projeto de vida para nortear nossa passagem pela Terra. As metas devem ser estabelecidas de acordo com nossos valores individuais.

- Acho que as metas devem ser diversificadas, incluindo algum “hobby” que tu gostas ou a participação voluntária em algum movimento “politicamente correto” ou nas reuniões em comunidades da igreja. – falou Vitória.

Paranormalidade e esoterismo

Com o tempo, Roberto adotou uma forma própria de sincretismo religioso, por discordar de alguns dogmas da Igreja Católica e de várias idéias e atitudes dos padres, que o fizeram se distanciar do catolicismo. Infelizmente, descobriu que a igreja conta com muitos maus servidores em seu seio, entre os quais pedófilos e hipócritas, que se consideram acima do indivíduo comum e donos da palavra de Deus e da verdade.
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(Em conversa com seu irmão Roberto falou:)

- Cada vez mais eu sou uma pessoa com fé, com espiritualidade, e cada vez menos uma pessoa com religião, ou seja, voltada para a instituição e os ritos. – continuou Roberto. Não precisa ter religião para se ter fé em Deus.

- A espiritualidade compreende e perdoa, une as pessoas, tem tolerância, é aberta ao diálogo, à harmonia e à sensibilidade, celebra a vida, onde o significado de Deus é amor; se dedica a meditar, cobrando a misericórdia e a justiça. Já, a religião promove a divisão entre as diversas religiões e seitas, as “guerras santas”, julga e condena, discrimina, se fecha, produz sentimento de culpa e neuroses, vive da celebração, nos fazendo reproduzir ritos, onde o Deus é Rei, Senhor e Juiz. Estuda e aplica o Direito Canônico, cobrando da gente o sacrifício e o dízimo. Nietzsche falava que: “Não posso crer num Deus que quer ser louvado o tempo todo”
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- Para finalizar – falou Roberto – vou citar uma frase, que acho muito interessante. Ela é atribuída ao Pe. Luiz Carlos Nascimento e nos diz: “A espiritualidade nos coloca nas mãos de Deus; a religião, nas dos homens”
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Roberto, a partir da metade dos trinta anos de idade, sabia que estava acontecendo alguma coisa diferente na sua vida, desde que começou a perceber que alguns eventos sem explicação surgiam e o empurravam em uma direção, que depois descobriu ser o tarô e o ocultismo. Mais tarde, iria entrar em contato com outras pessoas que sentiam a mesma coisa. Em sua leitura sobre a grande obra da maga ucraniana do século XIX, Helena Petrovna Blavatsky, descobriu que ela também já percebia desde a infância ser diferente das outras pessoas, pois possuía poderes psíquicos ou paranormais. Sabia também, desde cedo, que tinha uma missão a cumprir e que estava sendo guiada na direção do ocultismo.
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Mais tarde, ficou sabendo que, o que vinha ocorrendo, era uma conexão entre espírito e matéria, entre o interno e o externo. Diversos cientistas descobriram que esta conexão é muito mais direta e real do que pensávamos. A idéia da existência do Mago interno, traduzida pelo arquétipo da Carta 1 do Tarô, já foi demonstrado, sendo considerado nos últimos tempos mais do que um mero misticismo.
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Segundo um texto atribuído ao famoso físico Albert Einstein: “Aquilo que é impenetrável para nós existe de fato. Por trás dos segredos da natureza há algo inexplicável. A veneração a essa força que está além de tudo e que podemos compreender é a minha religião.”

Assim, verifica-se que, ao nível do psicóide, os padrões arquétipos do mundo interior correspondem exatamente aos da realidade externa. Todos nós podemos citar exemplos em que um padrão interno correspondeu a um padrão externo, de modo mágico, quando nenhuma conexão causal poderia ser encontrada entre os dois eventos. É a imagem interna se materializando em realidade externa.
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Jung definiu esses fenômenos com o termo sincronicidade, que é a palavra que traduz essas coincidências entre estados internos e eventos externos. Segundo ele, fenômenos sincronísticos significam a coincidência importante de um evento psíquico com um evento físico, que não podem ser casualmente ligados e estão separados no espaço ou no tempo. É o que ele chamou de coincidência significativa.
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Roberto pensava que deveria ter sido horrível para as pessoas durante a Idade Média, quando percebiam possuir dons paranormais ou estar na presença de fenômenos sincronísticos. Não tinham a quem recorrer. O psicólogo ou conselheiro da época era um padre, que iria com certeza querer exorcizá-las a custa das torturas mais terríveis ou queimá-las na fogueira depois de torturá-las. A saída era ficar totalmente calada, rezando muito para tirar o diabo do corpo, ou então se tornar uma pessoa mística, do tipo que tinha visões de santos, mas que passava também pelo risco de ir parar na fogueira, como foi o caso de Joana d”Arc. Outro caminho era se juntar a alguma seita renegada pela igreja, já que não podia recorrer aos servidores do Deus católico. Só que essas pessoas acabavam se voltando para práticas de magia negra, pois acreditavam estar possuídas pelo demônio. Era o conhecido ditado “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.
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Mais tarde Jung introduziu na sincronicidade o conceito mais objetivo de grau da ordenação acausal ou não causal, em substituição à coincidência significativa ou significação preexistente. No inconsciente coletivo, o arquétipo é visto como o fator ordenador: o significado é uma qualidade que o homem precisa criar para si mesmo.