quarta-feira, 15 de maio de 2013

Os amores

Um dia, no intervalo de 15 minutos de uma sessão de desenho com modelo ao vivo, estava na varanda descansando e olhando a paisagem, quando a modelo da vez, a Verônica, se aproximou e puxou conversa sob os olhares apreensivos da professora Catarina. Claro que ele já tinha feito umas brincadeiras quando se encontravam fora do atelier e dado umas olhadas, com um sorriso, durante as sessões de desenho. Não chegava a ser uma “azaração” franca, aberta, mas deu resultado.

- Escuta Roberto – falou a Verônica, que estava vestida apenas com um roupão. Que tal a gente ir para um barzinho depois da aula? Simpatizei com você desde o início, mas aqui a gente não consegue conversar nem 5 minutos, ainda mais que a Catarina fica de olho nas modelos.

- Tudo bem. Vamos nos encontrar na esquina da Rua Prudente de Morais. – disse Roberto e voltou para seu lugar atrás do cavalete, enquanto Verônica tirava o roupão, ficando nua em cima do pequeno palco onde as modelos posavam, para mais uma sessão de 45 minutos.

Foi a primeira vez no atelier que Roberto desenhou ou pintou uma modelo muito consciente de sua nudez, de sua feminilidade e da sensualidade que emanava do palco, o que dificultou bastante sua concentração e a firmeza de sua mão. Verônica de vez em quando olhava rapidamente para ele, que ficava com uma sensação de que ela estava rindo, por dentro, da situação.
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No período entre um casamento e outro, aconteceu mais uma coincidência na sua vida. Estava sentado num dia de semana na praia, chegado de uma viagem a trabalho, quando uma mulher na faixa dos trinta anos colocou sua canga próxima de onde estava. Lá pelas tantas ela puxou conversa e não parou mais de falar. Em pouco tempo ele descobriu que seu nome era Amanda e que era astróloga.

Tinha sido no passado uma Hare Krishna ..........................................
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Amanda apresentava um conhecimento profundo sobre os ensinamentos de Buda e particularmente de Krishnamurti. Era também conhecedora de ocultismo e astrologia, fazendo mapa astral para complementar sua renda. A remuneração que recebia com a elaboração dos mapas, juntamente com o salário de um emprego público, permitia criar o filho, já que seu ex-marido não pagava um “tostão” de pensão alimentícia.

Foi ela quem praticamente começou a iniciação de Roberto, através de uma mistura de ocultismo, astrologia e ensinamentos de Krishnamurti.
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Ela gostava de discorrer sobre assuntos que iam desde a criação do universo na visão do hinduísmo até Lilith. Nunca falou em Jesus ou Maria, não sendo assim cristã, nem adotando alguma forma de sincretismo religioso.

- Sabe “bicho” – falou para Roberto, uma vez que estavam na praia da Ferradura em Búzios, “curtindo” um final de tarde de primavera. A seita divulgou para o mundo o mantra Hare Krishna, que quase se transformou num hino para os simpatizantes do hinduísmo. John Lennon o incorporou inclusive na letra de uma de suas músicas.
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Roberto encontrou por acaso uma colega do tempo do Esoteric Center, a Diana, numa farmácia localizada na Praça do Lido, quando a Nara estava comprando absorvente.
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- Vamos Roberto, que você estacionou o carro num lugar proibido e eu já paguei a conta da farmácia.

Roberto que tinha sentido que a pressa da Nara era motivada por ciúmes, talvez prevendo o que iria acontecer no futuro, disse:

- Não tem pressa, hoje é domingo. Não vai aparecer nenhum policial de trânsito a essa hora da tarde.

A seguir, dirigiu-se para Diana e deu-lhe um beijo de cada lado do rosto, falando:

- “Tchau”. A gente se vê no sábado.

- “Tchau”. – falou Diana olhando para Roberto e para Nara, sacando logo o que estava acontecendo, sem precisar ser vidente.

Quando saíram a Nara perguntou:

- Quem é essa “guria”? Achei que tu estavas muito animadinho para o meu gosto.

- É uma colega. – limitou-se a responder, dando o assunto por encerrado.
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Passou um ano praticando nesse curso (de tarô) aos sábados a tarde, onde fazia também meditação de vez em quando. Depois de dois meses no curso, começou a abrir o jogo de cartas à noite para pessoas conhecidas e a namorar Diana. Ela era linda, de um tipo de beleza, incomum, difícil de encontrar entre as brasileiras, sendo morena de cabelos lisos e olhos azuis. A primeira vez que os dois transaram, na casa de Roberto, havia tanto desejo no ar que o ato pareceu levar uma eternidade, numa união intensa de todos os sentidos. O primeiro beijo foi um momento de magia e encantamento, como não acontecia há muito tempo na vida do Roberto.
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Diana era uma gata consciente dos seus predicados de mulher, que sabia usar muito bem os atributos contidos na Carta XI, a Força. Esta carta representa o emprego da força pela negação da força, o emprego de uma força sutil capaz de obter o que quer, sem se utilizar da força bruta. A carta simboliza uma mulher dominando um leão, abrindo sua boca sem nenhum esforço na altura de sua vagina, o que dá a esta carta uma conotação de sensualidade e sexualidade. Enquanto a Carta XV, o Diabo, representa o uso de uma força bruta descontrolada e o emprego do sexo pelo sexo, a Carta XI significa a utilização de uma força controlada e dirigida. Aqui o sexo é conseqüência da sensualidade ou erotismo emanado do indivíduo, no qual a mulher em geral conta com atributos superiores para dominar a arte da sedução.
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Roberto conhecera Vitória através do mesmo grupo de amigos onde conhecera a Nara. Considerando que na adolescência tinha namorado uma gaúcha de Porto Alegre, descendente de alemães, a Vitória era a terceira gaúcha na sua vida. Assim, começava a achar que tinha alguma tara pelo sotaque, pelo modo franco de falar e pela atitude desinibida das mulheres do Rio Grande do Sul. Era inconsciente, mas quando aparecia uma gaúcha num lugar ficava imediatamente atraído, antenado, ainda mais que elas são em geral muito bonitas.

Quando conheceu Vitória, Roberto estava com quarenta e quatro anos e ela tinha trinta e dois anos. Conheceram-se no aniversário de um amigo comum, que estava dando uma festa na boate Zoom de Copacabana. Roberto ficou imediatamente atraído por sua cara bonita com olhos cinza azulados e seu modo de falar. Nesse dia dançaram algumas vezes, mas Roberto sentiu que ela estava apenas com vontade de se divertir, talvez pelo fato de estar namorando um “cara” de fora do grupo há algum tempo, como ficaria sabendo mais tarde. A partir daí passaram a se encontrar mais amiúde, quando o grupo combinava ir a algum lugar.

Roberto nesse período estava saindo com a Carolina, que era uma carioca moreninha, baixinha e bonitinha, com os olhos meio puxados feito de índia, mas de pele bem clara, que vivia metida em causas e movimentos do tipo “politicamente corretos”. Assim, algumas vezes quando Roberto a chamava para sair, ela não podia porque estava comprometida com alguma causa que a impedia de ir, como fazer companhia, por exemplo, a um amigo aidético que estava passando mal. Durante a eleição presidencial que o Lula perdeu para o Fernando Henrique Cardoso, Carolina pediu um tempo para ir trabalhar durante dois a três meses num comitê eleitoral do Lula à noite e nos fins de semana. 
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No meio desse período que a Carolina pediu tempo e sumiu, Roberto e Vitória começaram a namorar em outra festa, na mesma boate onde haviam se conhecido. Quando Carolina reapareceu no grupo, descobriu que havia perdido duplamente: a eleição e o namorado.

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