quarta-feira, 15 de maio de 2013

Reincidência do câncer e uma filosofia e vida

Dr. Samuel pediu para sua secretária ligar para o paciente Sr. Roberto Moreira Thierri. Após alguns toques Roberto atendeu o celular e ficou sabendo que o seguro saúde havia negado seu pedido de tratamento com o remédio recomendado. Marcou então uma consulta para a tarde do dia seguinte, de modo a poder traçar os caminhos que deveria seguir, a partir do indeferimento da operadora do seguro saúde.
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A seguir ficou parado, pensando em suas chances, olhando para a folhagem verde exuberante da Mata Atlântica na sua frente, pontilhada aqui e ali com o prateado das folhas da embaúba, o marrom avermelhado das folhas novas das mangueiras, o amarelo ou o rosa das flores dos ipês e o laranja das flores de um flamboyan próximo. Concluiu que suas chances não eram nada boas, mesmo se conseguisse fazer o tratamento com o remédio.
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A fase de choque já passara. Na realidade durara umas horas e fora posta de lado na sua cabeça para que pudesse levar sua vida adiante, dentro de uma rotina, perturbada agora pelo que tinha que fazer em relação ao câncer. Não era dado a ficar deprimido e sempre procurara encarar de frente as dificuldades. Não se considerava mais corajoso do que as outras pessoas, mas não era de ficar parado se lamentando. Certa vez lera num livro sobre a guerra do Vietnam (Nascido para Matar) que o soldado, apesar de todos os sacrifícios e cansaço extremo de participar de patrulhas e das batalhas, precisava apenas dar mais um passo para prosseguir. É fácil, é só dar o próximo passo, um passo de cada vez, que você segue em frente até o final da sua jornada.
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Sempre encarou a morte como uma fatalidade da qual não se pode escapar. Era uma espécie de resignação oriental. Achava que se tivesse que ocorrer iria acontecer e pronto. A gente já nasce sabendo que um dia vai morrer. O melhor é aprender a conviver com isso.

Uma frase atribuída ao saudoso Bob Marley diz que: “Para que levar a vida tão a sério se ela é uma incansável batalha da qual jamais sairemos vivos?”
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Ficava sempre impressionado com a capacidade dos nossos sentidos de captar alguma coisa interessante no meio das adversidades, como uma cara bonita, uma fala amiga, um carinho, enfim alguma coisa boa, tirando nossa atenção do que é doloroso ou ruim. Claro, que isso só é possível se condicionarmos nossa mente para esse tipo de abertura. Como a cabeça da gente não para de pensar um momento sequer, é importante desviarmos nossa atenção para essas pequenas coisas que surgem e nos dão conforto ou prazer. Devemos procurar imitar a flor do girassol, que fica sempre de frente para o sol, procurando ver apenas o lado radiante da vida. Durante suas sessões de Tarô gostava de dizer para seus clientes:

- É importante aprendermos a criar compartimentos no cérebro para acomodar a coisa ruim e começar a observar o lado bom da estória. Se observarmos bem, com a mente aberta, vão surgindo algumas coisas boas na nossa frente, mesmo que pequenas.
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Quando iniciou o tratamento com o novo remédio, Vitória (sua segunda mulher) lhe dissera certa vez:

- Tu já estás com o bilhete da viagem comprado, mas quem disse que eu não posso ir antes de ti? Posso ser atropelada daqui a cinco minutos ao atravessar a rua ou ter um derrame daqui a dois dias. Se for assim temos que passar a viver intensamente todos os dias, feito se o mundo fosse acabar amanhã?

- Não, Vitória, você está certa – respondeu Roberto. Se a felicidade é curta, devemos buscar viver bem. Para se alcançar o bem estar devemos, antes de tudo, ter um projeto de vida para nortear nossa passagem pela Terra. As metas devem ser estabelecidas de acordo com nossos valores individuais.

- Acho que as metas devem ser diversificadas, incluindo algum “hobby” que tu gostas ou a participação voluntária em algum movimento “politicamente correto” ou nas reuniões em comunidades da igreja. – falou Vitória.

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